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Samba de Aboio: é tradição e o samba continua



Ao som do tambor marcante, do ronco da onça, do pandeiro estridente, da chocalhada dos ganzás e dos cânticos que falam da história do povo negro, todos os anos, no sábado e domingo da semana santa, moradores do povoado Aguada, localizado no município de Carmópolis, agradecem a Santa Bárbara as graças alcançadas com muita dança, comida, bebida e músicas contagiantes do Samba de Aboio – ritmo com largos traços de africanidade.


Conta-se que a história do Samba de Aboio teve início no tempo da escravidão e que a negra nagô Tamashalim Ecuobancker foi a grande idealizadora desta tradição. Foi ela que ao ver uma pedra achada pela sua neta, afirmou ser um raio caído enviado pela Santa, tornando-a em algo místico e adorada por muitas pessoas.

Logo de cara, percebe-se que o povoado é um quilombo. Que o som entoado é de raiz e que os negros que ali residem trazem consigo a marca histórica da cultura e resistência do povo africano, que, aqui no Brasil, foi aviltado de variadas formas. O Samba de Aboio é a prova desta ancestralidade viva e pulsante.


Além de Santa Bárbara os sambadores também homenageiam a princesa Isabel, por ela ter libertado os negros, em 1888. A primeira roda de samba acontece na noite do sábado de aleluia. Intitulada de “brincadeira”, essa roda é um preparo ou um ensaio do que vai ser tocado na linda festa do dia seguinte. Ainda no sábado, são servidos carneiro, boi, pirão, cachaça e vinho. Uma celebração essencialmente negra.


No domingo, na parte da manhã, acontece a matança dos galos e o banho de sangue na pedra adorada. Já pela tarde, os sambadores retomam a roda de samba na frente da casa de Santa Bárbara (antigamente a roda acontecia dentro do bananal) e assim toda a esfera vira um imponente terreiro.


O jeito de dançar o Samba de Aboio lembra muito a umbiguada, porém ela tem uma diferença literalmente visceral. Os dançantes realizam o bate-coxa, que é o encontro da coxa de duas pessoas, fazendo com que uma ou até mesmo as duas desabem no chão. Pra não machucar ninguém e a festa não parar, a roda de dança só acontece em um chão de terra fofa.


A negra Tamashalim Ecuobancker era de Angola e de lá veio também o Semba, estilo musical que deu origem a tantos outros ritmos, inclusive o samba. Além da sonoridade, o Semba, provavelmente, exportou alguns traços da dança para o Samba de Aboio. Inclusive, Semba, na língua angolana, significa umbiguada.


Agora, o que mais cativou este que vos escreve foi a voz do Mestre José Francisco da Mota Assis. Com um vozeirão acentuado e maestral ele conduz a roda de samba com uma propriedade que só ele tem. Ao redor dele, o coro responde ao cheio que é puxado pelo grande comandante. O timbre dele tem tudo a ver com o batuque do tambor e do som que sai da onça. São complementares e insubstituíveis. Não me hesito em afirmar que, no universo do samba, foi a voz que mais me marcou.


Neste pequeno relato não há palavras que fale de fato o que aconteceu em Aguada na última semana santa. No mais, tentamos registrar em fotos e em vídeo aquilo que é difícil explicar – a aura, a essência do som e a singularidade do Samba de Aboio. É uma singela contribuição para um samba que é grandioso, apenas por resistir.


Ao ver a participação da criançada e dos jovens na roda, tenho certeza de que a trajetória do samba continuará ainda por muitas gerações. Como diz o negro sambista Geraldo Filme, na música Tradição: “é tradição e o samba continua”.

Por Gegê, publicado no site revistarever.com


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